JÚLIA PINHEIRO, a conhecida apresentadora de TV, "AS TARDES DA JÚLIA" e "UMA CANÇÃO PARA TI", escreveu o seu 1º Romance "NÃO SEI NADA SOBRE O AMOR", que conta a história de 4 mulheres e a forma como elas em diferentes épocas e circunstâncias, determinaram as suas escolhas amorosas, épocas diferentes, relacionamentos amorosos desiguais.
PEQUENO EXCERTO DO ROMANCE
«Na geração de Maria da Glória, o amor era um infortúnio. Não servia para nada e só trazia aborrecimentos. Com o amor não se comprava terra nem se aumentava o rebanho. Nessa altura, em São Pedro do Ribeiro, o amor não era um objectivo nem um desígnio. As raparigas da terra não liam romances e os rapazes pouco sabiam sobre como fazer a corte, e o enamoramento. Ali, os sonhos faziam‑se
no esforço e no trabalho. Não havia tempo para suspiros e inquietações. A felicidade era uma malga cheia e uma cama debaixo de telha. O resto era fantasia, e, como tal, não existia. As mulheres mais velhas falavam de submissão, as mais novas sabiam que o destino era feito de filhos, pouco afecto e muita dedicação. As mães passavam às filhas o credo simples de uma existência segura e inquestionável: labuta, obediência e Deus, para justificar aquilo que não se desejava. E o que se desejava também, porque não se podia obter. Quando é que começou a desgraça de Maria da Glória? No dia em que morreu a mãe? Ou na tarde fatal em que António de Mendonça entrou na venda do pai? Durante muito tempo, o caso foi discutido na terra e nunca ninguém conseguiu chegar a uma conclusão. Maria da Glória não sabia nada sobre o amor, mas achou que podia começar a aprender no momento em que pousou os olhos míopes em António, um latagão alto e desempenado, herdeiro do homem mais abastado do burgo. Na altura ninguém deu por nada. Dezenas de homens entravam na venda todos os dias e Maria da Glória não ligava a nenhum. Atrás do balcão de madeira velha, emparedada entre as sacas das farinhas e as pipas de vinho, Maria da Glória exibia uma indiferença absoluta enquanto atendia os pedidos dos fregueses do pai, homens da terra que se deixavam ficar pelo tasco, horas a fio, à procura de companhia e de um pouco de calor. Maria da Glória era conhecida por ser uma beleza e por nunca mostrar os dentes a ninguém. Deslizava silenciosa no
balcão, vigiada pelo pai, que impunha o respeito, mas que não podia impedir o olhar guloso da plateia masculina que se arrumava no fundo da venda para emborcar uns canecos e jogar às cartas. A filha de Manuel Severino era alta, loira, olhos azuis sem expressão e uma boca capitosa. «Linda e esquisita», segredava o Jaime da drogaria aos amigos da sueca. Observava‑a horas a fio, enquanto jogavam às cartas na mesa encardida da venda. E nada. Nem uma chispa de interesse por eles ou por qualquer conversa que se desenrolasse à frente dela.
- A rapariga deve ser um bocado lerda. Os olhos parecem os de uma vaca. Muito quieta para o meu gosto - opinava Jaime, revelando‑se no velho ditado que apostava que quem desdenha quer comprar. O resto do grupo ria‑se da maldade de Jaime, conhecido por ter a língua afiada e pouco tino em matéria feminina.
Na verdade, ninguém sabia nada sobre Maria da Glória. Não se sabia o que ela pensava ou desejava e nunca ninguém tinha reparado que o olhar parado seria hoje designado como um caso alarmante de miopia. Nem mesmo o pai, que
a educava com mão-de-ferro, convencido de que só a autoridade poderia compensar a falta da mãe.» (CRÉDITOS-MODA E SOCIAL)
no esforço e no trabalho. Não havia tempo para suspiros e inquietações. A felicidade era uma malga cheia e uma cama debaixo de telha. O resto era fantasia, e, como tal, não existia. As mulheres mais velhas falavam de submissão, as mais novas sabiam que o destino era feito de filhos, pouco afecto e muita dedicação. As mães passavam às filhas o credo simples de uma existência segura e inquestionável: labuta, obediência e Deus, para justificar aquilo que não se desejava. E o que se desejava também, porque não se podia obter. Quando é que começou a desgraça de Maria da Glória? No dia em que morreu a mãe? Ou na tarde fatal em que António de Mendonça entrou na venda do pai? Durante muito tempo, o caso foi discutido na terra e nunca ninguém conseguiu chegar a uma conclusão. Maria da Glória não sabia nada sobre o amor, mas achou que podia começar a aprender no momento em que pousou os olhos míopes em António, um latagão alto e desempenado, herdeiro do homem mais abastado do burgo. Na altura ninguém deu por nada. Dezenas de homens entravam na venda todos os dias e Maria da Glória não ligava a nenhum. Atrás do balcão de madeira velha, emparedada entre as sacas das farinhas e as pipas de vinho, Maria da Glória exibia uma indiferença absoluta enquanto atendia os pedidos dos fregueses do pai, homens da terra que se deixavam ficar pelo tasco, horas a fio, à procura de companhia e de um pouco de calor. Maria da Glória era conhecida por ser uma beleza e por nunca mostrar os dentes a ninguém. Deslizava silenciosa no
balcão, vigiada pelo pai, que impunha o respeito, mas que não podia impedir o olhar guloso da plateia masculina que se arrumava no fundo da venda para emborcar uns canecos e jogar às cartas. A filha de Manuel Severino era alta, loira, olhos azuis sem expressão e uma boca capitosa. «Linda e esquisita», segredava o Jaime da drogaria aos amigos da sueca. Observava‑a horas a fio, enquanto jogavam às cartas na mesa encardida da venda. E nada. Nem uma chispa de interesse por eles ou por qualquer conversa que se desenrolasse à frente dela.
- A rapariga deve ser um bocado lerda. Os olhos parecem os de uma vaca. Muito quieta para o meu gosto - opinava Jaime, revelando‑se no velho ditado que apostava que quem desdenha quer comprar. O resto do grupo ria‑se da maldade de Jaime, conhecido por ter a língua afiada e pouco tino em matéria feminina.
Na verdade, ninguém sabia nada sobre Maria da Glória. Não se sabia o que ela pensava ou desejava e nunca ninguém tinha reparado que o olhar parado seria hoje designado como um caso alarmante de miopia. Nem mesmo o pai, que
a educava com mão-de-ferro, convencido de que só a autoridade poderia compensar a falta da mãe.» (CRÉDITOS-MODA E SOCIAL)
VIDEO
LINDA, SIMPÁTICA E MUITO INTELIGENTE, PORTUGAL PRECISA DE MAIS PESSOAS ASSIM, BEM DISPOSTAS...
ResponderEliminarjulia pinheiro e uma grand senhora gosto de passar a tarde na sua cmpanhia.tem uns filhos encantadores e merece ser feliz ao lado do seu grande amor.se feliz julia
ResponderEliminarGOSTO MUITO DE SI SOU UMA FÃ SUA DA CRISTINA E DO GOUCHA MUITAS FELECIDADES PARA OS TES
ResponderEliminarÉ possível repor o vídeo? Obrigado.
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